Texto de Eduardo Molon*
Confesso que, quando era garoto, com dez ou doze anos, e a família ia a uma festa de casamento, eu achava a maquiagem da minha mãe algo meio estranho. Sempre dizia a ela que era mais bonita sem aquilo tudo, com a sua aparência natural. Continuo achando as mulheres mais belas sem maquiagem.
Escapar à ditadura da aparência fabricada não é tarefa fácil, mesmo para uma mulher segura de si. A mulher acaba sendo compelida a usar alguma maquiagem ainda que seja para sentir que está bem arrumada, que uma ocasião é especial ou só para “não ir de cara lavada”. No trabalho, a ausência de maquiagem pode ser tomada até como desleixo pelos pares.
Não é por acaso. Do outro lado da equação está uma industria de 243 bilhões de dólares por ano, e crescendo. Os orçamentos de publicidade são igualmente bilionários. Mesmo com um faturamento deste tamanho, o furor mercantilista de expandir os mercados consumidores não para jamais. Depois de uma tentativa de pouco sucesso de criar um novo estereótipo masculino – o metrossexual – o que fazer para vender ainda mais? O que fazer para criar novos consumidores?
Semana passada deparei-me, num Shopping Center, com a criação resultante desta questão: o salão de beleza infantil. E ainda anunciava realizar festas de aniversário, conseguindo a união do desprezível com o abominável. Um salão de beleza infantil serve não apenas para vender o serviço e os cosméticos a crianças, mas especialmente faz o papel de inculcar nelas que precisam de maquiagem para ficar bonitas. Fazer festas infantis num local assim só serve para multiplicar a pressão do ambiente: como seria possível para uma menina ir a uma festa dessas e optar por não se maquiar?
É um tanto natural que as crianças queiram copiar o comportamento dos pais. Em particular, meninas pedem para usar alguma maquiagem da mãe, eventualmente. Os pais sentem algum orgulho disso, é claro, e acham bonitinho. Mas cabe aos adultos decidir o que é ou não apropriado para uma criança. Se uma criança quiser provar uma bebida alcoólica, por exemplo, os pais negarão sem negociar. Ora, uma mulher que use maquiagem diariamente pode absorver, por ano, através da pele, até dois quilos de agentes químicos que vão direto para a corrente sanguínea. Vários produtos químicos presentes em cosméticos podem estar ligados ao câncer.
Adestrar meninas, desde a infância, a acreditar que precisam de maquiagem é danoso tanto para sua saúde quanto para sua autoestima. A mera existência de um salão de beleza infantil já seria de causar espanto, e festas de aniversário ali pioram o problema, por intensificarem o efeito. Como agravante, a maquiagem favorece a sexualização precoce das meninas, pela aproximação da sua aparência à de uma adulta. Meninas tornam-se, além de consumidoras dos cosméticos, elas próprias objetos de consumo: basta observar uso de pré-adolescentes em campanhas publicitárias de moda, por exemplo.
*Eduardo é acupunturista especializado em Acupuntura Japonesa, tem dois filhos, mora no Rio de Janeiro e pode ser encontrado no blog eduardomolon.com
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