Texto de Patrícia Gomes*
O que hoje é conhecido como décimo-terceiro salário, João Goulart em 1962 chamou de Gratificação de Natal. Tão legal, né? O Presidente se preocupar assim com uma ceia farta, presentes, quem sabe trazer os parentes de longe para festejar juntos data tão importante!
Só que não. A questão foi simples matemática: “Criado em 1962, quando era comum o pagamento por semana, na verdade o décimo terceiro salário apenas repõe a diferença que existe em meses com 31, 30 ou 29 dias.” (fonte da citação)
Na prática não faz nenhuma diferença. É claro que em 1962 deve ter feito uma enorme diferença. Em 1994, quando comecei a cursar Ciências Contábeis, víamos nos telejornais que “o povo” aguardava ansiosamente por esse salário para fazer as compras de Natal. Presentes, ceia, viagens.
Estamos em 2013 e vejo nos mesmos telejornais que “os consumidores devem” aproveitar esse dinheiro “extra” para sanar dívidas, pois a cada ano o nível de endividamento do brasileiro cresce mais. Isso, sim, faz muita diferença! Do lado de cá das telas, nas conversas entre vizinhos, nos ônibus e no trabalho o que ouço é que as pessoas não veem a hora de receber para pagar as prestações atrasadas – de seja lá o que for.
Há anos o mês de dezembro para mim é sinônimo de não-compras, a não ser virtuais. Mesmo que eu queira presentear no Natal, compro antes, vou comprando conforme vou encontrando promoções e coisas que valham a pena para quem gosto de presentear. Sim, porque eu adoro presentear! Jamais fui fã de cartão de crédito ou qualquer forma de crediário. Minha única prestação é um AP financiado. Nada estranho: fui muito pobre, sou contadora e descendo de judeus, #taexplicado. Minha mãe, consumista como ela só, vivia emaranhada em dívidas até que perdeu o crédito até com o padeiro. “Que vida tranquila”, diz ela, “depois que passei a comprar só o que posso”.
Quanta coisa aconteceu entre a Gratificação de Natal e o décimo-terceiro…
Entre “o povo” e o “consumidor”…
Entre os “presentes, ceia, viagem” e o “sanar dívidas”…
Entre a vida endividada e abarrotada de coisas e uma “vida tranquila”…
Qual deve ser a diferença entre o Presente (agora), o Presente (a presença) e o Presente (coisa entregue para presentear)?
*Patrícia é contadora, pós-graduada em Educação e está cursando Pedagogia à distância. Empregada pública federal na área de Contabilidade, faz intervenções na área de Eventos. Foi mãe aos 35, pariu aos 36, engravidou quando minha Marina tinha 9 meses, mas esse bebê resolveu voltar para onde estava. Casada com Paulo, artista plástico, com quem divide muitas de reflexões. Mora em Maceió-AL. Autora do blog Agora que sou mãe.
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