Texto especial para o Milc de Mariana Sá*
Quer ver as Milcas terem um ataque de pelanca? Culpe ou julgue uma mãe!
Aliás, culpe ou julgue alguém sem ter calçado os seus sapatos com os seus calos. E vemos muito isso: vemos mães dizendo que outras mães são preguiçosas; vemos mães dizendo que não se informa quem não quer; vemos mães dizendo que em eras da informação, o conhecimento e a reflexão estão disponíveis para todas. Como se todas as mães tivessem acesso a toda internet, como se todas as mães tivessem feiras livres produtos orgânicos, brincantes na porta de casa, como se todas as mães tivessem tempo, como se todas as mães tivessem companheiros com renda suficiente para que apenas ele trabalhe (ou como se todas as mães tivessem renda suficiente para o companheiro assumir a casa e as crianças como ocupação principal), como se todas as mães soubessem fazer leitura crítica de mídia para diferenciar a informação útil da informação produzida a partir de interesses mercantis.
Sabe o que nunca vemos aqui? Mães empoderadas E com a devida noção de seu próprio privilégio. Ou mães que assumam as suas vulnerabilidades e as suas preguiças próprias. Não vemos a mãe que diz: “eu consigo – comprar apenas comida viva e orgânica, preparar o lanche saudável, fazer curadoria e mediar os conteúdo audiovisuais, rechear o final de semana com programas culturais, ou, simplesmente, sentar pra brincar ou ler um livro diferente toda noite – mas entendo a mãe que não consegue. É difícil mesmo! Tenho esta facilidade, este talento, esta disposição, este tempo, este conhecimento, esta disponibilidade.”
Também não vemos a mãe que diz: “eu entendo quem não consegue… eu mesma resisti muito a fazer mudanças… e agora continua sendo difícil acordar todos os dias e me informar, e refletir, e pesa cada escolha que faço em nome dos meus filhos… mas sigo vivendo um dia de cada vez e com o tempo tem sido mais leve… mas fácil nunca é… então entendo a mãe que faz escolhas diferentes da minha… não apenas entendo, como acolho e abraço… e me ofereço para ouvir e contribuir… se quiserem.”
Então antes de arrotar a própria capacidade diante da incapacidade de outra mãe pergunte-se o que ela não tem que você tem.
Pergunte como ela chegou àquela conclusão e entenda seu percurso, sua diferença de visão de mundo… E pergunte: “se eu me importo com todas as crianças, como posso ajudar as mães?”
(*) Mariana é mãe de dois, publicitária e mestre em políticas públicas. É cofundadora do Milc e membro da Rebrinc. Mariana faz regulação de publicidade em casa desde que a mais velha nasceu e acredita que um país sério deve priorizar a infância, o que – entre outras coisas – significa disciplinar o mercado em relação aos direitos das crianças.
Tags: culpa empatia julgamento maternidade responsável responsabilidade