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Prezada Monica Figueiredo,
Agradecemos a pronta resposta, o convite e os esclarecimentos prestados. No entanto, ainda temos algumas dúvidas sobre o teor destas matérias e nos reservamos o direito de discordar veementemente de seu conteúdo, que, sendo ou não pago, mais se assemelha a um release do que a uma matéria jornalística.
Se vocês promovem debates e ouvem as mães, por que colocam um único ponto de vista nas matérias? Onde está a diversidade de opiniões e ações? Isso, como já foi dito, nos parece pobre jornalisticamente, e prejudicial às mães que querem amamentar ou dar comidas caseiras ao seus filhos apesar de tudo: apesar da revista, apesar do enorme apelo da indústria alimentícia, apesar dos jornalistas e médicos que se curvam a ela, apesar dos contratempos, apesar dos problemas que venham a surgir. Para nós, a matéria, sim, defende uma posição só. E isso é injusto.
Você diz que não é anúncio, é editorial. Editorial reflete a opinião da Revista. Mas isso não casa com o conceito de sustentabilidade que vocês dizem defender, por exemplo. E não casa com dar voz a outras mães, às pessoas interessadas diretamente nos assuntos tratados pela campanha. Você também fala em “ir mais fundo”, no caso da matéria das papinhas; mas se ir mais fundo é publicar depoimentos de uma mãe e uma pediatra, seguimos achando que se trata de um release da marca de papinhas.
Não seria apropriado, no caso da matéria sobre amamentação, falar que existem muitas formas de superar os problemas (que, sim, existem, e nós não negamos) do que simplesmente eximir a mãe de culpa e indicar a fórmula? A média de amamentação exclusiva no Brasil não chega a 60 dias, ainda está muito longe dos 180 dias preconizados pela Organização Mundial de Saúde. Logo, percebe-se que as que não amamentam depois dos dois meses são a maioria. E ainda assim a revista acha que precisa eximi-las de culpa (será que elas sentem culpa?), que isso é mais interessante do que mostrar também outros caminhos para incentivá-las a continuar, por exemplo?
Nos perguntamos: por que a revista precisa sair em defesa da maioria, se as minorias é que sofrem patrulha? Por que a revista não se preocupa em ir atrás de evidências médicas, por que não se preocupa em bem informar? Por que não vai além da pauta pronta e publica declarações de outras mães, colocando o debate na matéria em si e não somente em fóruns? Afinal, o que fica na edição impressa é a matéria, pobre em informação e rica em desserviço.
Não somos partidárias da patrulha e concordamos com o fato de que as pessoas devem colocar suas opiniões livremente, mas achamos que as matérias e a campanha da revista devem refletir isso. E vocês não estando dando voz às diferentes opiniões. Ou a nossa carta aberta será publicada na revista? Somos um coletivo com mais de 8.000 seguidores no Facebook, com mães e pais espalhados pelo Brasil e até outras partes do planeta.
Por fim, não acreditamos no discurso de “menos mãe”; não existem medidores de maternidade, não achamos que via de parto ou tempo de amamentação por si só definam qualquer coisa, assim como ninguém é mais ou menos ser humano por assumir uma ou outra postura. Somos a favor de uma maternidade consciente, responsável e bem informada, por isso nos manifestamos. E existem questões de saúde pública envolvidas nesses textos, portanto achamos que vale uma reflexão mais aprofundada sobre a linha editorial de vocês. Acreditamos que este tipo de matéria, com visão única, não é pertinente nem condiz com a importância de uma publicação antiga e prestigiosa como a Pais & Filhos.
Atenciosamente,
Coletivo Infância Livre de Consumismo
Tags: culpa não Pais & Filhos