Texto de Elisabete Gonçalves Silva Cabrera*
O processo de aprendizagem alimentar inicia-se no nascimento por meio das experiências vivenciadas pela criança. Tais experiências são influenciadas por fatores ambientais, culturais e psicossociais. O contexto social exerce um papel fundamental no processo de aprendizagem: de um lado estão os pais, que podem lançar mão de técnicas adequadas ou inadequadas para passar aos filhos o conceito de alimentação, tendo influência direta sobre a formação de preferências e hábitos alimentares. De outro lado está a mídia, bombardeando de forma desenfreada propagandas de alimentos de alta densidade calórica e pouco nutritivos, vendendo a ideia de praticidade e conveniência.
É importante salientar que a mídia tem um poder persuasivo muito grande que atinge não somente as crianças, mas também os adultos, tanto no nível do consciente quanto do inconsciente. É aí que está o perigo, pois os pais ou responsáveis deveriam exercer o papel de mediadores diante deste público que ainda não tem a capacidade de discernimento para formar opinião própria. No entanto, esse bombardeio deseduca os próprios pais.
Esse panorama motivou-nos a desenvolver um trabalho intitulado “Saúde, Nutrição e Psicologia – Refletindo o comportamento alimentar”. O objetivo é alertar e despertar um senso crítico nos pais de crianças atendidas em centros de educação infantil do município de Ferraz de Vasconcelos.
Atuamos junto a comunidades carentes. Essas comunidades não são apenas carentes de “pão”, mas também de informação acerca de alimentação saudável – e são bombardeadas todos os dias pela publicidade desleal e rotuladora.
Através desse trabalho, enfatizamos a importância da formação de um hábito alimentar saudável desde a mais tenra idade, mostramos a influência do marketing sobre o subconsciente das pessoas e destacamos a importância de uma visão crítica com relação aos conteúdos transmitidos pela mídia no que concerne à nutrição, e alertamos também sobre a questão do consumismo em geral.
Primeiramente todos assistem uma palestra sobre alimentação saudável, sua importância e como compor um cardápio balanceado dando ênfase ao proposto na pirâmide alimentar, respeitando cada fase da vida. Em seguida, apresentamos os riscos que os produtos industrializados em excesso e o sedentarismo provocam, citando doenças crônicas como obesidade, dislipidemias, diabetes etc.
Esse projeto vem rendendo bons frutos, pois há uma troca muito importante com o público, que traz suas experiências, seus anseios e dificuldades em lidar com a exposição dos filhos à mídia. Expomos em vidrinhos as quantidades de açúcar, gordura e sódio presentes em alguns produtos industrializados, tais como biscoitos recheados, macarrão instantâneo, refrigerantes, balas etc. Abordamos os excessos muitas vezes praticados e chamamos atenção para as embalagens coloridas com figuras atraentes, algumas inclusive com figuras de personagens infantis, e cujas quantidades de sódio ultrapassam as recomendações diárias adequadas para um adulto – que dirá então para uma criança. Estimulamos também uma reflexão quanto às estratégias de marketing, destacando o uso de personagens famosos, celebridades, brindes e a manipulação que as empresas exercem para atrair principalmente o público infantil.
Fechamos o ciclo com uma roda da conversa onde todos têm liberdade para expor suas dúvidas e experiências, e oferecemos algumas sugestões para uma alimentação saudável com receitas e degustação de produtos caseiros.
Acreditamos que, em conjunto, o poder público, a sociedade civil e a comunidade científica podem trabalhar para reverter os conceitos errôneos passados às famílias pela publicidade, educando novas gerações despidas de rótulos e livres do consumismo excessivo.
Referências:
*Elisabete é nutricionista e mãe, e está fazendo a sua parte para construir um mundo melhor
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