campanhas / 26 de setembro de 2013

Fazer uma feira de trocas não é difícil e faz milagres

Texto de Patrícia Gomes*

Era uma vez o ano de 2011 e aproximava-se o Dia Internacional da Mulher. À época eu era gambiarra de promotora de eventos do Aeroporto Internacional de Maceió e minha veia feminista me impedia de distribuir rosas ou ofertar um curso de auto-maquiagem. Como estava bastante envolvida com o tema de Consumo Consciente, resolvi apresentá-lo às colegas em forma de debate e vivência. Para o debate convidei a jornalista baiana Savana de Carvalho, que tinha terminado de lançar o documentário Garotas-propaganda: Influências da publicidade no comportamento das pré-adolescentes, financiado pelo Instituto Alana, e uma colega de trabalho que mantém um bazar de venda e troca de roupas usadas na Internet, que nos trouxe sua experiência com esse tipo de iniciativa.

A prática do evento, o que poderia ser? Trocar! Foi o primeiro evento que lotou o auditório do aeroporto! Confesso que o interesse pelo bazar era maior do que pelo debate, no entanto ouvimos muitos relatos importantes da plateia. Várias mulheres diziam que antes não viam diferença entre Consumo e Consumismo, e a grande maioria viu suas filhas retratadas nas imagens do documentário, que apresentava meninas de 12 anos ou menos com coleções de esmaltes, maquiagem e fazendo questão de ter produtos “de marca”.

O bazar funcionou assim: uma semana antes, cada mulher deixava comigo até três peças semi-novas de roupas/acessórios e retirava de uma caixa, aleatoriamente, três fichas numeradas, que equivaliam à sua vez no momento de escolher as “novas” peças. Doamos as que sobraram para a Rede de Mulheres com Câncer de Mama de Alagoas, pois sustentam o aluguel de sua sala com promoção de brechós.

A partir desse evento, minha pacata vida de Contadora estava com as horas contadas! Todo santo dia alguma participante me perguntava quando seria o próximo e quem tinha perdido e ouviu falar… perguntava a mesma coisa. Foi quando tive a idéia de fazer uma Feira de Trocas para o dia das crianças.

No mesmo ano não foi possível, mas em 2012 caí em campo para saber #comofaz. Liguei então para o SESC, que fazia feiras de livros quando eu era criança (eh eh eh), e soube que ninguém poderia me ajudar, pois parte das pessoas do projeto haviam morrido e outras se aposentado. Foi quando lembrei da distância que me afastava daqueles doces tempos.

Estava cada vez mais envolvida com o consumo consciente e agora com a questão da publicidade voltada para as crianças. Através do site do Alana conheci o da Aliança pela Infância, e foi para este que, em junho de 2012, escrevi um e-mail pedindo orientações sobre como fazer tal feira. JURO pelos meus botões que lidar com crianças é muito diferente de lidar com adultos, então creiam-me: minha insegurança tinha fundamento. Recebi prontamente um retorno da estagiária mais competente/motivada/esperta de todos os tempos, Andressa Pellanda, informando que o Alana estava trabalhando no assunto.

Rede montada: Alana, Aliança e o incipiente Infância Livre de Consumismo e alguns amigos com quem contei no dia do evento. Rateamos as despesas para imprimir alguns cartazes para divulgação e marcadores de página no MILC com informações dos demais parceiros no verso, que foram distribuídos aos participantes da Feira.

Print

A fim de ampliar o público, não realizei a Feira na empresa, mas numa pequena praça em que o movimento de veículos é mínimo. A divulgação foi feita por e-mail, telefone (sim!) e afixação de cartazes em pontos estratégicos tanto no bairro como nas escolas de noss@s filh@s e na Universidade Federal de Alagoas. Encerramos com um piquenique e a inevitável arrumação de tudo.

Recebi então um convite para criar um núcleo-semente da Aliança pela Infância em Maceió. Reuni-me com algumas amigas, fizemos a carta de intenção e começamos a programar a 2ª Feira, que ocorreu em dezembro do mesmo ano. Para esta a divulgação foi feita através das redes sociais virtuais e, como meus amigos fugiram, tivemos poucos voluntários, então a divulgação foi menor.

Algumas lições que aprendemos na 1ª Feira:

  • Pais e/ou responsáveis, talvez acostumados àqueles aquários de shopping e hipermercado onde você deposita o filho e dá as costas, tiveram esse tipo de atitude, o que nos mostrou o perigo que corremos. Além de termos mesmo corrido atrás das crianças e saído procurando quem era o (ir)responsável por aquela criaturinha;
  • Crianças fazem xixi. Sério! Descobrimos isso nesse dia em que não havia banheiro público e nenhum vizinho aceitou meu cativante sorriso pedindo para dar uma entradinha no banheiro com aquela criança suja e suada;
  • Se tivesse ocorrido um acidente mínimo que fosse, estaríamos perdidos, pois nem bolsinha de primeiros-socorros havíamos providenciado.

A feira deste ano está marcada para 05/10, o primeiro sábado do mês.

Maceio_Cartaz

A ideia é de que as crianças sintam-se “saciadas” com o novo brinquedo ou livro e dispensem a aquisição de novos. Como sabemos que na verdade os parentes costumam fazer questão em manter essa “tradição” (putz, caí na risada, perdoem-me!) estamos divulgando maciçamente esse objetivo e no dia do evento focaremos nas brincadeiras, além de ir para corpo-a-corpo com os acompanhantes das crianças.

Para isso, o plano é, segundo as atividades que teremos, distribuir os voluntários da seguinte forma:

  • 1 olheiro/coordenador/faz-tudo/super-zen;
  • 3 estarão com caderno, caneta e conhecimento sobre a Aliança pela Infância; pedirão que os participantes que desejarem receber notícias dos futuros eventos anotem seus contatos e buscarão saber sua opinião sobre o que estão vivenciando e pedir que nos participem se perceberem alguma mudança no comportamento de consumo das crianças após aquele dia;
  • 1 ficará responsável pelas brincadeiras com corda e elástico;
  • 1 fará atividade com menores de 4 anos: massinha de modelar caseira, papietagem com cola caseira, pintura com tinta caseira em papel de escritório (aqueles que usamos para rascunho), brincadeiras com bola em círculos, cantigas de roda e o que mais surgir, pois esses tesouros sempre têm ideias ótimas;
  • 1 para a pintura facial com o desenhista e pintor e marido, Paulo Caldas (o mega-sucesso de todas as feiras);
  • 1 para a “roda de histórias”. Haverá um contador, que iniciará e passará a vez a quem quiser na roda. Para este posto escolheremos a pessoa a dedo – quem vê diz que tem uma fila de voluntários se digladiando para uma vaga, mas gente… fé e autoestima são tudo!
  • 1 para coordenar a EcoPescaria: vamos colocar areia de praia no fundo de uma bacia grande e peixinhos feitos em tecido e recheados de areia. Na água colocaremos descartáveis de todo tipo: sacolas plásticas, palito e embalagem de picolé, o que deverá dificultar a pescaria. A cada rodada de 4 pescadores o coordenador vai refletir com as crianças sobre o que foi ali vivenciado;
  • 1 fotógrafo que ficará responsável por recolher as assinaturas que autorizam o uso da imagem de crianças e adultos;
  • 3 jovens para correrem atrás das ovelhas desgarradas que sentem um prazer imenso em olhar aquela turma de boné e camiseta de Sol e se mandar pelos cantos mais distantes da praça. Estes farão a maior parte da arrumação pós-feira, contando com a ajuda dos demais.

Anunciamos um piquenique, mas minha vontade é que se transforme num lanche coletivo, vamos ver se rola.

Estamos providenciando, além de voluntários e manutenção da fanpage:

  • Solicitação de ambulância à prefeitura e ao batalhão de bombeiros que fica próximo à praça;
  • Água para beber e NEM MORTA copos descartáveis;
  • Avisos escritos em cartolina e estandartes em tecido com propaganda dos Parceiros;
  • Banners descartados por empresas para forrar o chão (pelo avesso da imagem) e colocar ali os brinquedos e livros;
  • Após o evento, doação os banners a uma ONG que recicla esse material;
  • Doação dos livros e brinquedos que sobrarem (sempre sobra) para instituição a ser escolhida pelos integrantes da feira.

A divulgação será pelas redes sociais, nas escolas do bairro e nos encontros quinzenais chamados Piquenique na praça, promovidos pela turma do Facebook preocupada com a utilização saudável das praças.

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Minha singela estratégia é colocar um cartaz com mínimas informações sobre a feira, o que obriga o interessado a vir até mim e ser seduzido pela ideia. Geralmente deixam os contatos e vamos disseminando o evento.

cartaz

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Pareceu difícil? Querem saber onde é a Sede da Aliança em Maceió? Numa gaveta de plástico que já possuíamos, lindamente decorada por minha filha de 4 anos, onde guardo lápis de cor, papel para rascunhos, edições da Aliança, corda, elástico, cordão, camisetas e bonés. Em 2012 fiz uma campanha para recolher travesseiros velhos (quem não tem um em casa levanta a mão o/), dividi-os em dois para fazer almofadas e cobri com TNT. Por não caberem nessa caixa, somente elas estão em outro local.

A poucos dias da Feira e com apenas quatro voluntários, estou tranquila e certa de que tudo sairá perfeito. Não como planejei, mas como deverá ser.

Aprendi isso em todos os eventos que já produzi e principalmente nos que envolvem crianças: se conseguirmos nos divertir, deu tudo certo!

*Patrícia é contadora, pós-graduada em Educação e está cursando Pedagogia à distância. Empregada pública federal na área de Contabilidade, faz intervenções na área de Eventos. Foi mãe aos 35, pariu aos 36, engravidou qdo minha Marina tinha 9 meses, mas esse bebê resolveu voltar para onde estava. Casada com Paulo, artista plástico, com quem divide muitas de reflexões. Mora em Maceió-AL. Autora do blog Agora que sou mãe.


Tags:  Dia das Crianças 2013 Feira de Troca de Brinquedos Maceió troca de livros e brinquedos Trocas

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Mariana Sá




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