criança e mídia / 24 de outubro de 2013

Como mudar o hábito da TV em quatro passos

Texto de Ana Andrade*

Com meu primeiro filho, não via mal nenhum na TV. Porque a princípio os programas são mais “inocentes” exatamente para os pais terem a pseudoideia de que estão oferecendo aos filhos algo educativo, de qualidade. Nesse momento, a família se acostuma com a “programação”. E, indo mais fundo, concluí que quem era viciada em TV era eu. Por estar algumas vezes cansada, eu ligava a TV e assistia a qualquer coisa que estivesse passando. Só que somente me atentei pra esse fato quando vi os problemas acontecendo com o filho.

Com o crescimento dele, passei a me incomodar com seu comportamento. Era um tal de quero isso, quero aquilo, o amigo tem. E aí começa um exercício árduo de educação. Você passa a fazer triagem de tudo que passa por sua família. Você observa triste o lanche com frutas e bolo caseiro, voltar amassado na lancheira por dias seguidos, até descobrir que a turma toda leva pacotes pro lanche. E vem a pergunta: onde estou falhando? O que está errado?

E você percebe enfim que a luta é injusta. Sim, como a criança poderia não querer consumir aquela porcaria se ela estava sendo bombardeada com aquelas propagandas todas? Percebe que não tem como blindar seu filho do que está acontecendo, e que você continuará lutando com o sistema. Mas o principal é: quem decide o que entra em casa sou eu. Sim, preciso desligar a máquina de maluco (expressão do meu marido). Então quem mudou fui eu em primeiro lugar. Foi difícil, sim. Comecei me indignando com o comportamento do meu filho e acabei observando muitas outras coisas. Como padrões são sistematicamente colocados na nossa cabeça: compre, seja, faça. Ou embutem algum sentimento de insegurança: medo da obesidade, medo dos assaltos, medo de não acompanhar as tendências. Mas é uma contradição um tantão de propaganda te mandando comprar, depois o jornal alarmando que o povo brasileiro está endividado e por último um “entretenimento” de gosto duvidoso que nos faz rir de nós mesmos da forma mais vil possível. Mas como mudar o padrão?

Vou sugerir aqui nesse texto algumas ideias que deram certo na minha casa:

quatro passos TV

1. Limite o tempo da TV

Eu sei, parece impossível, mas ao longo do tempo você vai ver o resultado. Se seu filho faz tudo com a TV ligada, ele com certeza vai estranhar o silêncio! Coloque um CD de que ele goste. Hoje temos a opção de baixarmos os arquivos em mp3 de músicas variadas. Invista numa playlist bacana. Duvido que ele resista! Apresente novas bandas a ele. E, claro, em algum momento o silêncio é bem-vindo. Mas cada criança tem seu termômetro, vamos respeitá-lo. Aproveite o tempo para conversar com ele.

2. Escolha junto com a criança o que ela vai assistir

Se ficar difícil fazer essa triagem, reserve um tempo para vocês assistirem juntos. Duvido que você ache os programas tão inocentes. Preste atenção na indicação etária, na maioria das vezes considero-a desatualizada. Nesse exercício você também vai observar as propagandas. Sente com a criança e mostre os artifícios que foram utilizados para chamar a atenção dela. As frases de efeito, as luzes piscantes. Não te dá dor de cabeça olhar? Imagina na criança!

3. Aproveite para debater com a criança

Aqui entram os valores que você quer passar. Sim, o tempo é agora. Não é depois, não é mais tarde. Se você não fizer, seu filho vai sofrer, e você também. Fale de amizade, de consumismo, de altruísmo. As crianças nos dão de volta tanto que você vai se surpreender!

4. Se sua cria já está envolvida com a TV em demasia, invista nos DVDs.

Por quê? Porque assim a propaganda sai de cena. Utilize o passo 2, fazer a triagem do que ela vai assistir. Procure produções de outros países. Tem muita coisa bonita de se ver e se ouvir por aí! (Sugestões de filmes bacanas são bem vindas nos comentários!)

Por fim, isso vai surtir muito efeito. Gosto de realizar pequenas mudanças de cada vez. Sinto que são mais fáceis de monitorar, testar. Quando a mudança for incorporada, invista em outras!

Sei que o que escrevi aqui não se aplica a muitas famílias que em geral estão trabalhando. É impossível monitorar quando se está fora (vivi assim por um tempo). Por isso que é preciso parar pra pensar na regulamentação da publicidade dirigida a nossas crianças. Nos programas disfarçados de programas, quando são na verdade publicidade. Porque a responsabilidade é de todos.

razoes2

*Ana é mãe de 2, arquiteta, inquieta, tem um projeto para embelezar Petrópolis com plantas e acredita que agora é a hora de ser feliz.

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Tags:  #publicidadeinfantil consumismo infantil crianças e publicidade desligue a TV TV

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Mariana Sá




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