livros e filmes / 17 de outubro de 2013

Kikoriki

Texto de Joanna Santiago*

E teve início o FICI )Festival Internacional de Cinema Infantil) deste ano. Lá fomos nós, às 10h da manhã de sábado, ao cinema assistir um filme alemão chamado Kikoriki. A história com toda certeza chamou mais minha atenção pelo que não foi dito do que pelo que foi…

Kikoriki é uma ilha onde animais vivem sua vida em paz, harmonia, brincadeiras. Aparentemente os animais são “crianças”, pois mesmo tendo cada um suas casas e vivendo sozinhos, eles têm em comum uma mistura de pureza e ingenuidade. Até descobrirem uma televisão.

Aquele aparelho misterioso chama a atenção de todos em Kikoriki que se reúnem para vê-lo funcionar e, quando finalmente a caixa mágica de nêutrons funciona, o canal sintonizado em Kikoriki mostra uma série de um super-herói aparentemente como os moradores da ilha.

Lucien, um urso destemido que luta contra o mal, defende as pessoas, salva os que estão em perigo e ainda luta contra o maldoso vilão. E de quebra, entre um episódio e outro, ainda vende (merchandising do mais ordinário) seu shampoo, seu cereal, sua pasta de dente.

Ok, então vocês me perguntam: o que isso tem demais? A TV esta repleta de super-heróis salvando o mundo e de produtos licenciados. A diferença é que em Kikoriki eles acreditam que aquilo tudo é real. Eles acreditam que Lucien existe e que está vivendo todos aqueles episódios. E ficam indignados de nunca aparecer ninguém para ajudá-lo. O que eles decidem então? Atravessar o oceano, enfrentar o desconhecido e os perigos do mar, para encontrar Lucien e juntos formarem um time na luta contra o mal.

Eu não precisaria continuar a contar o filme aqui, porque já cheguei no ponto sobre o qual gostaria que nós, pais e mães, refletíssemos. Nossos filhos, com toda pureza própria da infância, também acreditam em tudo que vêem na televisão? Que tipo de orientação temos dado a eles sobre isso? Estaria a TV roubando a inocência das nossas crianças?

Quando chegam à cidade, a ingenuidade do time de Kikoriki simplesmente não combina com a “realidade”. Eles acreditam que podem ajudar Lucien, e passam por alguns apertos até descobrirem que Lucien não passa de um ator frustrado. Um urso que deixou a fazenda acreditando num sonho de fazer programas infantis na cidade e que se pega fazendo merchandising de pasta de dente, shampoo e cereal.

O time de Kikoriki descobre da forma mais difícil a “verdade”. O filme também fala de relações conflituosas no mundo artístico, das “mentiras” por trás dos bastidores da TV e muito mais. Lucien, que na verdade se chama Berry, acaba indo para Kikoriki junto com os moradores da ilha, que o acolhem e fazem uma casa para ele. Tudo acaba bem. E bem longe da TV…

E nós? Aqui em casa resolvemos desligar a TV por uma semana. Uma espécie de detox, para ver se conseguimos ficar mais limpos, ou menos poluídos. E aproveitamos para ensinar aos meninos que a gente não pode acreditar em tudo que vê na televisão…

*Joanna é mãe de Tito, 5 anos, e Paulo, 9 anos, é publicitária, mora na Bahia e está envolvidíssima nas reflexões sobre infância, mídia e consumismo.

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Tags:  filmes Kikoriki merchandising

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Mariana Sá




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