Texto especial para o Milc no Dia das Crianças de Mariana Sá*
Acordo hoje, na véspera do Dia das Crianças, com um gosto de fruta fresca na boca, com a sensação de uma brisa fresca num dia sol, com cheiro de grama recém cortada, ao som do canto do sabiá. Por dentro uma sensação de otimismo que só sinto quando estou numa roda, num grupo, num bando. Um sentimento latente de que as mudanças estão vindo.
Depois de meses gestando afetivamente uma série de imagens, concebidas por artistas amorosos e competentes, uma campanha por um dia das crianças sem consumismo nasceu. Nasceu com amor e foi acolhida por todos aqueles para quem foi criada. Números grandes, lindos comentários, reflexões fascinantes.
Não sei exatamente como é o novo, não sei exatamente pelo que estamos trocando este mundo cansado, mas percebo de uma maneira muito sutil que o novo é belo, que faremos uma boa troca. Muito mais belo e mais bacana do que o mofado sistema de espoliação e subjugação que insiste em se reproduzir, melhorando do ponto de vista histórico, mas não o suficiente para as nossas aspirações. Olho para trás e vejo que caminhamos muito. Vejo que caminhamos juntos. O que antes era uma pauta secundária, hoje está na ordem do dia.
Sei que ninguém suporta mais o mundo como ele é e sei também que não existe modelo pronto em vigor. Sei que precisaremos de muita fibra e muita vibração para inventar esta novidade necessária. Eu queria um mundo diferente, estou certa de que você também querem. Queremos um mundo diferente, mesmo se estamos vivendo uma vida bacana. Queremos porque sabemos que, enquanto todos não tiverem uma vida bacana, nossa vida não será bacana o suficiente.
Por enquanto, estamos aqui no Movimento Infância Livre de Consumismo pensando em como desenhar um mundo mais bacana para nossos filhos, torcendo para que eles aproveitem algo desta novidade. Estamos aqui lendo este mundo a cada notícia, a cada reflexão, fazendo uma crítica dura e necessária ao nosso modo de produção e mostrando experiências de vida diversas, alternativas de escape, atalhos, redutos de beleza, coisas que funcionam um pouco ou muito melhor. Temos o mapa das BRs, mas queremos achar o mapa das estradas vicinais.
Acreditamos que existem pessoas radicalizando a sua forma de viver para nos mostrar que outros modos de vida são viáveis e bacanas: pessoas parindo em casa, pessoas amamentando exclusiva e prolongadamente, pessoas que educam em casa, pessoas que se alimentam exclusivamente de comida de verdade, pessoas que não comem bicho, pessoas que andam de bicicleta, pessoas que brincam no chão da sala, pessoas que boicotam empresas, pessoas que produzem o que consomem, pessoas que pensam liberdades, pessoas que pensam libertações.
Não quer dizer que todos tenhamos que viver como essas pessoas, não quer dizer que tenhamos que radicalizar, mas é bom saber que condutas alternativas como estas existem. Saber nos possibilita o novo, nos oferece uma luz, uma esperança, uma rota nova.
Amanhã é ‘um’ Dia das Crianças. Foi criado para vender brinquedo, mas hoje aproveitamos a data para refletir sobre nossa relação com as crianças, sobre a relação do mercado com as crianças, sobre a relação da mídia com as crianças e sobre as políticas públicas para as crianças.
Temos diplomas legais que enfatizam a prioridade para a infância: vamos levá-los em conta, vamos parar de fingir e começar a proteger as crianças de verdade, se queremos mesmo ver este mundo mais bacana. Vamos exigir que o parlamento proteja as crianças da ferocidade do mercado, do escamoteamento das informações e do assédio da mídia.
Feliz Dia das Crianças, com ou sem presentes, mas sem consumismo e com muita presença, conexão, disponibilidade e infinitas possibilidades de estar de corpo, alma, coração e espírito político-cidadão vivendo a infância dos nossos filhos.
(*) Mariana é mãe de Alice e Arthur . É publicitária e mestra em políticas públicas. Escreve no blog viciados em colo é uma das co-fundadoras do Movimento Infância Livre de Consumismo.
** Agradecer nunca é pouco: meu abraço afetuoso para Mila Bartilotti, Lu Azevedo e Pedro Serravalle que transformaram em realidade o sonho de uma campanha linda.
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