denúncias e sentenças / legislação / 5 de fevereiro de 2014

Propaganda do Conar ironiza reclamações dos consumidores

Texto de Vanessa Anacleto*

Em quase dois anos participando de debates sobre os rumos da comunicação mercadológica dirigida a crianças representando o MILC, já sabemos o que esperar de nossos interlocutores do lado de lá da questão. Representantes dos anunciantes e do Conar (Conselho de Autorregulamentação Publicitária) invariavelmente utilizam seu tempo nas discussões para tentar minimizar o problema, relativizar os prejuízos causados às crianças e descredenciar os pais que se posicionam contra os abusos da propaganda.

A nova campanha publicitária do Conar, que vem sendo veiculada nos grandes canais de tevê aberta e vimos também em peças para mídia impressa, traduz perfeitamente o pensamento dos defensores da publicidade para crianças. No filme “Palhaço”, o palhaço Peteleco é acusado de apologia à violência pelo uso do nome e desperdício de água por causa da flor com esguicho na lapela, entre outras reclamações exageradas. Já no filme “Feijoada”, um casal no restaurante reclama do que considera um cardápio machista (com mais ingredientes masculinos do que femininos) e de segregação (“Por que você separou o arroz do feijão?”). Os filmes terminam conclamando o público a confiar em quem entende. E quem entende, no caso, é o Conar (vai entender). Mais eficiente para mostrar o ânimo do Conar para com o público que assiste às peças publicitárias e que consome os produtos e serviços anunciados, impossível.

De acordo com o Conar, quem entende de publicidade são os publicitários e empresas representadas pelo Conselho (para saber mais leia Conar, regulamenta?). Do alto de sua sabedoria, o Conar julga, sem direito a apelação, uma opinião divergente. Afinal, quem julga o recurso das decisões é o mesmo órgão. Para o Conar, aquele que  reclama do abuso da publicidade é um chato da patrulha do politicamente correto, além de ignorante na matéria, e deveria ficar em casa assistindo aos filmes abusivos, consumindo os produtos e serviços – e de boca calada. Somos consumidores inconvenientes para um Conselho criado durante o governo João Figueiredo. Afinal, reclamar na época do “prendo e arrebento” não era comum.

Os tempos mudaram, as necessidades do consumidor cresceram, o nível de informação da população subiu e os mecanismos colocados a nossa disposição para coibir eventuais abusos estão mais sofisticados. Infelizmente, porém, os responsáveis pela regulação da publicidade estão demorando a perceber isso. O objetivo da campanha publicitária do Conar parece ser, além de reforçar sua alegada autoridade indiscutível, desmotivar aqueles que tenham ânimo de reclamar de alguma campanha publicitária abusiva. Desta maneira, fica fácil identificar o que a campanha deseja comunicar ao dizer que o Conselho “todos os dias recebe dezenas de reclamações. Muitas são justas, outras, nem tanto.” As denúncias justas são as feitas entre empresas. Afinal, quando um anunciante reclama de outro, o Conar age rápido como um raio. As denúncias injustas são as feitas pelos consumidores. Os chatos politicamente corretos, que vêem problema onde não existe, como esta que assina este texto.

*Vanessa é mãe do Ernesto, blogueira no Mãe é tudo igual, escritora no Fio de Ariadne, co-fundadora do Movimento Infância Livre de Consumismo, opiniática e gosta do que faz.

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Tags:  #publicidadeinfantilNÃO autorregulamentação conar denúncias direitos do consumidor regulamentação

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Mariana Sá




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