Texto especial pata o Milc de Debora Regina Magalhães Diniz*
Por conta das mudanças biológicas e aumento das demandas nutricionais os adolescentes comem muito e várias vezes por dia. Não é incomum escutarmos de mães que seus filhos estão “comendo até as paredes”. Essa necessidade de “mastigar o tempo todo” também pode estar associada a outra questão que pode surgir na adolescência: a necessidade de preencher vazios e o tédio causado pela queda de dopamina.
A necessidade maior de ingestão de alimentos associada a mais autonomia e maior tempo sozinho ou fora de casa faz com que o adolescente seja o alvo perfeito da indústria alimentar e que faça escolhas por alimentos rápidos, empacotados e viciantes como: salgadinhos, salgados, pizza congelada, sanduíches, refrigerantes, chocolates, macarrão instantâneo entre outros.
Não podemos aceitar que as más escolhas sejam imputadas todas ao próprio adolescente. Precisamos refletir sobre o que é oferecido, a que eles têm acesso. Muitos já compraram uma ideia estabelecida pela publicidade de que adolescentes “só comem besteira”. Aceitar essa afirmação como se nada pudesse ser mudado é justamente o que a indústria de alimentos processados quer. Aliás, a ideia já é fomentada desde infância quando pensamos nos cardápios infantis e na pouca variedade de alimentos saudáveis ofertados. Para reforçar essa ideia, a publicidade dos alimentos processados, que chamamos de “porcaritos” está em todo lugar: nos filmes, nas lanchonetes, nos supermercados, na televisão, na indústria de entretenimento e agora, principalmente, na internet.
“Há evidências de que a comercialização de alimentos e bebidas não alcoólicas influencia conhecimentos, atitudes, crenças e preferências, ainda mais no público infanto-juvenil. As indústrias alimentícias competem para a venda de produtos com campanhas publicitárias para a divulgação de produtos com elevada densidade energética, para a produção de novos produtos, de porções maiores e de produtos que alardeiam serem benéficos para a saúde. Embora sejam potencialmente causadores de obesidade, esses alimentos aparecem nas mensagens publicitárias atrelados à saúde, à beleza, ao bem-estar, à energia e aos prazer e a conceitos de ascensão social, de pertencimento e de diversão.” (Bezerra; Sichieri, 2011; Torloni et al, 2013; Lang et al, 2009)
A publicidade em que os jovens são felizes, “descolados” e bem aceitos em seus grupos acessa diretamente o imaginário e o desejo do adolescente por pertencimento.
Este foi o segundo texto da Série Especial: Alimentação na Adolescência.
(*) Debora Regina Magalhães Diniz é mãe de três, professora há 20 anos, doula e educadora perinatal desde 2004. Cursou Letras e Semiótica. É cofundadora do Milc – Movimento Infância Livre de Consumismo, uma das coordenadoras da Roda Bebedubem desde 2012 e membro da Rebrinc. É ativista e implicante com a sociedade atual desde sempre.
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