Texto especial para o Milc de Debora Regina Magalhães Diniz*
O Dia das Crianças está próximo, nossos filhos já são bombardeados frequentemente com a publicidade de brinquedos na televisão, no comércio, na escola, entre os amigos… Todo mundo já foi intimado pelo filho com a pergunta: “O que você vai me dar de dia das crianças?” Sim? Continuemos…
Essa é uma das épocas que nós, do Movimento Infância Livre de Consumismo, iniciamos nossas batalhas internas, porque somos mães e a vida de mães ativistas não é nada fácil. Como combater a publicidade, a indústria do consumo sem sermos chamadas pelos nossos pequenos de “piores mães do mundo”? Sabemos que muitos de nossos leitores estão no mesmo dilema: como não ser contraditórios em nossos ideais.
Somos frequentemente questionadas de como fazer para viver se somos contra o consumo. Nossa resposta é a mesma: não somos contra o consumo, somos contra o CONSUMISMO! Consumismo é um desvio, é consumir sem critério, exageradamente, comprar o que não necessita. Nós somos pelo consumo consciente.
O capitalismo estimula cada vez mais o consumo, esse sistema faz com que acreditemos que nossa existência dependa do consumo: eu só “sou” se puder comprar. Para alimentar o capitalismo, a indústria, através da publicidade, desenvolve mecanismos que acendem o desejo, esse desejo gera ansiedade: é preciso adquirir tal produto para sentir felicidade.
Então, antes de chegarmos ao Dia das Crianças Sem Consumismo, vamos pegar o fio dessa meada, que é a publicidade dirigida às crianças (essa sim, somos totalmente contra).
Até meados dos anos 70 a publicidade era direcionada aos adultos, a criança era vista como “filho do consumidor”. Depois, com a diminuição dos número de filhos, a indústria e a publicidade perceberam que uma criança, além de ter forte poder de persuasão, também seria o “futuro consumidor”, ou seja, fidelizar clientes desde a infância seria uma “ótima ideia”. Então, por volta dos anos 80, a criança passou a ser tratada como “o próprio consumidor”.
Sabe-se que 80% das compras de uma casa são definidas pelas crianças, a indústria do consumo sabe que, dificilmente, os pais conseguem resistir aos apelos dos filhos. E é nesse espaço que entra a nossa tão conhecida CULPA. Para a engrenagem do capitalismo girar é preciso que os pais trabalhem cada vez mais, precisando ficar cada vez mais ausentes. Como suprimir esse vazio, essa ausência? A publicidade nos dá a solução: comprem!!! Preencham seus vazios com “coisas”! Quem nunca comprou algo na tentativa de acalmar uma culpa, de preencher um vazio atire a primeira pedra. E tem mais, enquanto estamos ausentes seja trabalhando ou cuidando dos afazeres domésticos, a publicidade está falando diretamente com nossos filhos, sem filtros, mesmo que saibam que crianças são vulneráveis.
E agora? O que fazemos? Não há saída para essa armadilha? Sim, há saídas!!!
A primeira solução ainda não chegou, que é a regulamentação da publicidade dirigida às crianças. O PL já tramita há mais de treze anos. Por hora, o que temos é a Regulamentação do Conanda que já permite que algumas denúncias sejam feitas.
A segunda solução é evitar exposição à publicidade feita, principalmente, pelas TVs aberta e fechada, e alguns canais no Youtube. Tudo porque não há uma regulamentação e uma determinação do Conanda simplesmente não é cumprida. Por isso, sabemos que nem sempre é possível esse controle.
E enquanto isso, o que faremos? Vamos fugir, isolar-nos numa comunidade, isolar nossos filhos? Acreditamos que tal solução não seja tão simples e não seja o desejo de muitos.
ENTÃO, QUAL A SOLUÇÃO PARA ESSE DIA DAS CRIANÇAS???
Não temos solução definitiva, mas temos uma maneira de burlar o consumismo: BRINCAR!!!
Toda criança tem necessidade de brincar, criar. Criança é potência! Por isso conseguem ressignificar muitas coisas. Acreditamos que, se nós, adultos, estamos buscando uma solução, precisamos OLHAR para as crianças.
Se o consumismo é tudo aquilo que compramos por impulso e sem necessidade, a partir do momento que damos um SENTIDO para aquela compra o consumismo se perdeu. Portanto, se alguém (mãe, pai, avós etc) quer comprar um brinquedo para uma criança, brinque com ela!!! A criança é capaz de subverter a ordem, até dos brinquedos que “brincam sozinhos”. Brinquedos são feitos para serem brincados, não para serem expostos numa coleção, nem guardados no armário ou baú. O acúmulo é consumismo, é falta de sentido, é “vazio”.
Brincar com uma criança aplaca a culpa, ameniza a ausência e ressignifica o valor daquele presente. O valor do presente será o valor da PRESENÇA. E, para isso, vale para tudo, qualquer brinquedo: do boneco ao aplicativo de celular, também não precisa ser comprado, pode ser construído, pode ser usado: vamos brincar com as crianças, colocar-nos lado a lado, ombro a ombro com elas, nada de dar ordens.
Nesse Dia das Crianças, vamos subverter a lógica capitalista com a principal arma das crianças: brincando.
(*) Debora Regina Magalhães Diniz é mãe de três, cofundadora do Milc, cursou Letras e Semiótica. É doula e educadora perinatal há 10 anos. Atualmente vive no Vale do Paraíba e é uma das coordenadoras da Roda Bebedubem. É ativista e implicante com a sociedade atual desde sempre. Co-fundadora do Milc e membro da Rebrinc
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