Texto de Patrícia Gomes*
O Natal começou dia 13 de outubro, quando as lojas começaram a decorar as vitrines, os restaurantes colocaram faixas propagandeando os preços das confraternizações de fim de ano, as agências de viagem começaram a publicar os “pacotes” para o réveillon e todos os anúncios encheram-se de neve, manta acrílica, cetim vermelho e feltro verde.
As pessoas, já em outubro, não paravam de comentar sobre como o ano passou voando e, para provar “Já é até Natal!”. Quando se dirigiam a mim eu respondia: “É impressão, ainda estamos em outubro, faltam dois meses para o fim do ano, o comércio é que já está vendendo por conta e acaba distorcendo até nossa noção de tempo”. As pessoas me olhavam como se tivessem acordado dum transe.
A cada ano o natal é antecipado. Não só ele, mas todas as datas comerciais passam a ser anunciadas assim que a anterior termina. Desde o ano passado até o dia da Avó está sendo atacado!
Existe o Natal-comercial e a festa religiosa, mas é impressionante como poucas pessoas se dão conta disso, inclusive os religiosos.
Minha filha (4 anos) chegou em casa cantando “…porque que Papai Noel não se esquece de ninguém…” aproveitei que havíamos assistido dias antes ao filme Dumbo e completei “…seja rico ou seja pobre a cegonha sempre vem”, ela caiu na risada e disse “Mããããããeee…” naquele tom de cumplicidade de quem está fazendo uma transgressão – e está adorando! A partir de então cantamos assim e caímos na risada juntas.
A figura de Papai Noel, para mim, é absolutamente esquisita! As pessoas falam na “fantasia necessária, mas só vejo ali o maior garoto-propaganda do mundo, já que faz até os cristãos esquecerem-se do Cristo.
Moramos num local que já foi mata atlântica, então há várias APAs (Áreas de Preservação Ambiental) aqui e acolá. Quando passamos por elas Marina fica procurando o Bambi, pede para o pai dirigir devagar e ficamos ouvindo a floresta…sempre concluímos que Bambi não apareceu porque está na campina ou dormindo ou brincando com o Tambor ou…ou…ou…
Minha filha não perde a fantasia por não termos guirlanda na porta nem decoração de Natal, por não sermos religiosos ou por acreditarmos que só a cegonha vem para os ricos e pobres. O bom da fantasia é o inusitado, a surpresa de sua nascença! Como foi no caso do Bambi, uma fantasia criada por ela e compartilhada conosco. Como é a Lara, sua irmã-imaginária, que frequentemente precisamos colocar no colo ou segurar-lhe a mão para atravessarmos a rua.
Fantasia vendida e comprada? Reproduzida e multiplicada em versões por vezes grotescas? Entregue à criança revestida de justiça, já que Noel visita rico e pobre, num mundo que compensa sua culpa (cristã ou burguesa) doando roupas puídas e brinquedos quebrados justamente no fim do ano? Não, justa preciso ser eu, algumas pessoas compram e doam peças novas mesmo. Afinal, Natal sem presente não é Natal e até os pobres precisam crer nisso.
E agora, que no Brasil as classes C e D estão consumindo e se endividando mais, finalmente a criança que há três anos pede um play station vai ganhar ser sonho de consumo ao invés da inevitável bola anual. E qual a explicação para Papai Noel não deixado o play nos anos anteriores? Ora, “Você não foi um menino obediente, por isso só ganhou a bola. Melhore no próximo ano!” Então o garoto cresce acreditando que ser pobre é culpa sua.
O menino vê o pai pegando serviço de pedreiro, carpinteiro, catando latinha, pet e papelão, participando de cooperativas, mas nunca ganha o suficiente para melhorar de verdade as coisas em casa. Ele observa aquilo, não precisa pensar muito, a explicação já foi dada: seu pai não se comportou e pronto!
* Patrícia Gomes, contadora, pos-graduada em Educação, mas só agora cursando Pedagogia. Empregada pública federal na área de Contabilidade e faço umas intervenções na área de Eventos. Fui mãe aos 35, pari aos 36, engravidei qdo minha Marina tinha 9 meses mas esse bebê resolveu voltar para onde estava e somos então eu, Marina e marido Paulo, que é artista plástico e com quem divido muitas de nossas reflexões. Moramos em Maceió-AL. Escrevo – quando há tempo – no blog que criei quando me soube grávida agoraquesoumae.blogspot.com
Tags: Natal precisamos rever o Natal presentes

0 Comment
situação inusitada… marina pensa que o PAPAIIIII NOEL é o PAPAI DO CÈU e o menino jesus – que deveria ser o FOCO do natal, passa a ser apenas um menino insignificante e fragilizado que nasceu ela não sabe onde. sabe que o papai noel faz ho ho ho quando ri, traz presentes e está em todos os lugares onde ela chega, até chegar o ano novo e o carnaval. daí adeus papai noel, do céu, menino… como era mesmo o nome dele? jesus, né? isso mesmo… adeus natal… e viva o são joão, apesar de ainda ser janeiro…
O comentário acima é do meu marido, PAULO CALDAS, que não sabia estar logado como eu 🙂
O comércio quer vender e pronto. Não tá nem um pouco preocupado com o que representa o natal. Infelizmente as pessoas embarcam nessa de consumismo sem sequer parar pra pensar. Entram no ano novo endividadas com panetones, perus e presentes parcelados. É mesmo como que um transe coletivo. Daí sempre a necessidade de se remar contra a maré, fazendo o contraponto. Bom seria, a partir das nossas famílias, iniciarmos uma nova tradição natalina, fazendo um festejo bem diferente, pra que o que de fato importa (a vinda de Deus Filho ao mundo) consiga se sobressair. Parabéns pelo texto!
Prima, vejo seu texto aqui como se fosse a voz de Deus chamando a atenção pra quem possa ler e escutar, as observaçoes que voce faz são extremamente significantes eu fico imaginando e curiosa pra saber como voce está conduzindo Marina Gomes Caldas a entender toda a mentira em torno de uma unica verdade que há um pai de fato, que deu um presente eterno pra os ricos e pobres e que esse presente é a vida eterna que por sinal não é a preocupação da maioria as pessoas se consomem nesta vida como se não houvesse outra pra viver amei demais esse texto como sempre sua cabeça sempre linda e organizada te amo bjs. du
“Existe o Natal-comercial e a festa religiosa, mas é impressionante como poucas pessoas se dão conta disso, inclusive os religiosos”.
Talvez essa distinção não aconteça pelo fato de que as duas “modalidades” de natal na verdade não sejam muito diferentes… Se atentarmos para a história da comemoração do 25 de dez, compreenderemos que a igreja, ao longo dos séculos, buscou sua promoção, assim como o comércio busca o aumento de vendas em datas comemorativas como esta. Ambos sobrevivem de “fiéis”. Seja fidelidade a uma doutrina ou a determinada marca.
O papai noel, o maior garoto propaganda do mundo, como vc bem colocou, nada mais é que um personagem que a Coca-cola tratou de enfeitar muito bem para uma de suas campanhas publicitárias, se não me engano, de 1931.
Diante disso, e de toda essa antecipação natalina, como vc citou, não consigo me deixar levar pelo “então é natal”. Reuno-me, sim, com amigos, familiares, pessoas queridas que desejam se confratenizar ao fim do ano, não pela obrigação da data, mas, pela satisfação de ter vivido mais um ano ao lado de gente do bem.
Acabei de conhecer este site e gostei muito!
Ando detestando o natal a cada dia mais.
Sou cristã mas não é por religião e sim por tudo que tenho visto.
Quando minha filha tinha uns seis anos acabei com a graça, fantasia, esperança ou sei lá o quê! Chegou o natal e começou a ladainha dos presentes pedidos ao “papai noel”. Cheguei pra ela e disse, “olha minha querida é o seguinte papai noel não existe, eu dou um duro danado para te dar tudo o que você precisa e quem compra e paga seu presente depois de muito trabalhar,sou eu.”
Não sei se fiz bem ou mal ou se causei algum trauma psicológico ou “bullymico” naminha filha, mas ela está ai…e continua me pedindo o que quer…